Lares

Meu Lar de infância ficava na rua Netuno em minha cidade natal, era uma casa com um quintal grande de entrada, e no fundo havia a parte construída com dois quartos, uma sala, um cômodo que nunca soube o que era de verdade e uma cozinha. Cresci com ela. Vi suas transformações e ela viu as minhas.

Era uma sensação mágica voltar para ela depois das longas horas de brincadeira na rua sabendo que tinha um lugar onde eu podia deitar e descansar, eu chegava, contava todos meus feitos do dia para o chuveiro, a água me ouvia e o ralo confirmava a veracidade das histórias que eu contará atraves da sua cor. Os azulejos daquele banheiro me forçavam a imaginação, criava figuras, histórias e seres, lembro até hoje uma imagem de uma mão de um senhor tentando encostar em outro abaixo dele bem parecido com a obra que desconhecia até então,  "A Criação de Adão" do Michelangelo. 

Aquela casa me formou boa parte de quem sou hoje. Aquele lar me confortava. Tenho lembranças dela como se fosse uma imensa casa, ao contrário da visão que tive na minha última visita a ela.

O tempo passou, a primeira mudança venho, mudei para uma casa 5 ou até 6 vezes maior. Era lindo. Eu nem sabia do que havia deixado para trás, nem me importei. E depois de um ano, mudei denovo. Morei num hotel por um ou dois meses. Depois morei pela primeira vez num apartamento. Depois em outra casa qual fiquei até que tempo considerável. Mas nenhuma delas era meu lar como a primeira. Talvez fosse a magia da primeira. Talvez seja porque tenho esse lance que o sempre o primeiro de qualquer coisa me marca muito, e depois é só mais um.

 Até que tive uma experiência muito deliciosa de morar na minha própria casa, minhas regras, meus jeitos. Seria minha primeira casa própria qual eu era o rei imperador Master Blade de lá. Mandava e demandava nos móveis, vive muitas histórias lá, e ao passo que fui madurencendo fui marcando aquele recinto com desenhos na parede. Hoje, ainda estão lá e gosto que estejam lá, pois aquele lar sabe meus segredos e eu conheço cada centímetro daquele habitat. Já comemorei festas, quase já morri também. Sinto que a cativava a cada vez que eu cariciava ela com as cerdas da vassoura, com o banho de mangueira, e ela me cativava todos os dias quando voltava dos dias cansativos  com banhos longos e quentes... 

Mas a única constante existente no universo permaneceu, o tempo passou, a vida deu voltas. A casa ficou lá  me esperando, e eu fui conhecendo outros lares, mudei para longe dali, voltei, fui novamente, fiquei em vários hotéis, dormia num e acordava olhando para outro teto que jamais vi. Acabei me acostumando com a mudança de tetos, lares e de pessoas. A magia da sensação do lar hoje para mim acontece em qualquer lugar que eu vá, é como se todo planeta Terra fosse meu lar onde posso fechar os olhos e descansar em paz. Sinto como se eu fosse parte do todo, mudam se as cores, formas e regras, mas continuo confortável e pleno com o ambiente. É como se tivesse uma casa em cada lugar do mundo. É uma sensação libertadora e deliciosa. Sei que nunca será como a primeira, pois só existe uma primeira, mas me sinto bem, livre e em casa. 

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